Em Alagoas, o Grupo RT sente as consequências do jogo Tigrinho sobre seus funcionários. Boa parte está endividada pelo vício no jogo
Cada vez mais populares, as plataformas de jogos online têm ganhado adeptos, mas o lado obscuro, que vicia e adoece quem perde grandes quantias durante as apostas, chamou a atenção do empresário alagoano Rafael Tenório, presidente do Grupo RT Logística, que foi às redes sociais relatar o drama que atinge boa parte de seus funcionários. Viciados nos jogos, eles chegam até a pedir demissão para acessar recursos do FGTS para pagar dívidas. A empresa tem recorrido na realização de ações para conscientizar os colaboradores dos riscos e outras medidas com auxílio de psicólogos.
O empresário conversou com o Movimento Econômico sobre o problema, identificado no mês de abril. Rafael Tenório contou que o setor de Recursos Humanos detectou solicitações fora do comum de antecipação de férias, 13º salário e até pedidos de demissão. A direção da empresa ficou surpresa ao detectar que o motivo de tantas demandas, na verdade, eram resultado do vício dos colaboradores em jogos online e o consequente endividamento. O jogo mais acessado entre eles era o Fortune Tiger, o “Jogo do Tigrinho”.
“Essa descoberta aconteceu por acaso. Como nossos setores sempre dialogam, o pessoal do Recursos Humanos começou a perceber funcionários antigos, bem posicionados na nossa empresa, passando por problemas. Eu cheguei a conversar com diversos colaboradores, pois não era nosso interesse perder nenhum deles. Fomos descobrindo que alguns chegaram até a sacar o FGTS para jogar nessas plataformas. Teve um de nossos colaboradores, com 25 anos de casa, que vendeu seu apartamento para pagar dívidas que contraiu com esses jogos”, revelou Rafael Tenório.
Diante do problema detectado nas empresas do Grupo RT, a direção decidiu ofertar ajuda por meio do setor de pessoal e RH e já programou, inclusive, um evento no mês de julho que vai reunir profissionais da saúde, de Gestão de Pessoas, além de empresários e colaboradores de outras empresas de Alagoas para debater os prejuízos causados com o vício em jogos online.
“Um sobrinho que trabalha conosco também estava jogando. Descobrimos porque ele jogava na plataforma com o celular da empresa e começamos a monitorar sua rotina, já que muitas vezes ele passava a madrugada jogando e acabava chegando tarde no trabalho, o que refletiu na queda de produtividade. Isso nos preocupou e começamos a desenvolver um trabalho com ele também”, disse Tenório.
O empresário alerta que as empresas precisam cuidar da saúde física e mental dos colaboradores e oferecer auxílio psicológico em situações como esta de vício em jogos.
“É preciso que empregadores e a população em geral estejam atentos sobre os riscos que esses jogos podem causar. Aqui no Grupo RT prezamos pela saúde de nossos colaboradores oferecendo orientações, atendimento com profissionais especializados para que todos entendam a gravidade desse vício, para que ele não comprometa sua vida profissional e pessoal”, alertou Rafael Tenório.
“Jogo do Tigrinho” virou alvo de investigação policial
A Polícia Civil de Alagoas realizou uma operação em junho, denominada Game Over, que investiga influencers que estavam cometendo crime de estelionato ao incentivar seus seguidores a praticar esse tipo de jogo.
Segundo as investigações, influencers alagoanos utilizavam uma conta fictícia para simular ganhos na plataforma e com isso divulgavam para seus seguidores os números como se fossem reais, o que acaba incentivando diversas pessoas a apostar.
A estimativa é que pelo menos 40 pessoas estejam envolvidas no esquema ilegal, que já apreendeu mais de R$ 38 milhões em bens, entre carros de luxo e outros materiais.
O advogado criminalista Roberto Moura explica que houve uma extinção do crime (abolitio criminis) quando a Lei 13.756/2018, que tributa apostas online e define regras para a exploração do serviço, foi instituída, prevendo a modalidade de aposta esportiva, tornando essa conduta atípica penalmente.
“A questão central para a intervenção da polícia é a manipulação de resultados, o que supostamente vem ocorrendo em Alagoas. Nesse caso, os influenciadores estão sendo investigados por estelionato ao usarem contas demo para manipular resultados e induzir o vício nas pessoas. Além disso, pode ser imputada a formação de organização criminosa”, frisa Moura.
*Fonte:Movimento Econômico