ARTIGO IMPORTANTE PARA SABER A SITUAÇÃO ATUAL DO CONSUMO DE BEBIDAS E TENDÊNCIA DELINEADAS PARA O FUTURO PRÓXIMO, ALÉM DE ESTRATÉGIAS DA INDÚSTRIA: BEBER MELHOR E MENOS, CERVEJAS E DESTILADOS NÃO ALCOÓLICOS, JOVENS FUGINDO DO ALCOOL, SOFISTICAÇÃO (PREMIUM) E SAÚDE AVANÇANDO, ETC
Assunto: Artigo Valor (30/09/2021) - Jovens abstêmios mudam a indústria (Por Brooke Masters — Financial Times)
Jovens abstêmios mudam a indústria
Por Brooke Masters — Financial Times)
Consumidor de 18 a 24 anos não quer saber de ressaca e prefere preservar a saúde e a carteira
Qualquer um que tenha passado recentemente por um pub londrino ou um bar de Manhattan sabe que a convivência social está de volta. Funcionários de escritório podem ficar receosos em voltar ao trabalho presencial, mas uma vez que se acostumam à ideia, seu próximo passo natural é a socialização depois do expediente.
As vendas em agosto e setembro na rede de pubs britânica Mitchells & Butlers superaram as do mesmo período em 2019 e o mesmo vale para os restaurantes na Alemanha e Irlanda, segundo dados do site de reservas OpenTable. As vendas de cerveja da Heineken nas Américas, Oriente Médio e África voltaram aos níveis de 2019. “O desejo humano de encontrar-se para uma cerveja ou drinque num bar ou restaurante é universal em todos os tempos”, disse o executivo-chefe da cervejaria, Dolf van den Brink, na semana passada.
A reabertura traz tanto uma oportunidade quanto um desafio para a indústria de bebidas, que tenta se assentar depois da viagem em montanha-russa que foi a pandemia. Em termos mundiais, as vendas, em volume de bebidas, caíram 6% em 2020 e não deverão se recuperar por muitos anos.
Por outro lado, os produtores de bebidas premium se saíram bem, uma vez que os consumidores confinados em casa aderiram à preparação de coquetéis, a receitas de forno que levam álcool e a experimentar tequilas e cervejas de alto padrão. A tendência foi particularmente forte entre os americanos, que já se vinham se inclinando a beber mais em casa do que fora. Ao contrário do resto do mundo, o consumo total de álcool nos Estados Unidos cresceu em 2020.
Agora, a bola está com as fabricantes de bebidas, como a Diageo e a Pernod Ricard, para que mantenham as vendas em alta enquanto os consumidores têm outras opções nas quais gastar.
“Beba melhor, não muito” tornou-se o grito de guerra da indústria. O lema não apenas encoraja os consumidores a continuar optando por produtos mais caros, mas também soa bem aos ouvidos das autoridades reguladoras, empenhadas em reduzir os problemas sociais associados a bebedeiras e alcoolismo. O consumo per capita vem caindo há anos em alguns dos países onde mais se bebe.
Vender volumes menores de produtos mais caros amplia as margens de lucro. Além disso, o processo de envelhecimento usado para criar os produtos de alto padrão faz com que aumentos nos preços das commodities não sejam repassados de imediato para os consumidores.
A Suntory, do Japão, vem levando a tendência a um extremo, com um uísque vendido por US$ 600 mil a garrafa, no varejo. Na Diageo, a categoria “superpremium”, que inclui a tequila Casamigos (fundada pelo ator George Clooney) e versões “deluxe” do uísque Johnnie Walker, teve expansão de 35%. Ela foi responsável por quase metade do crescimento nas vendas líquidas do ano encerrado em junho.
O foco na qualidade também cria espaço para a indústria enfrentar uma de suas maiores ameaças à lucratividade no longo prazo: clientes da geração Z e Y se sentem bem menos atraídos pelo álcool do que as anteriores.
Mais de 56% das pessoas de 18 a 24 anos acham que consumir um ou dois drinques por dia é “prejudicial”, em comparação a um patamar de 31% entre as pessoas com 65 anos ou mais, de acordo com uma nova pesquisa do banco de investimento Jefferies com 4 mil consumidores em oito grandes mercados. Os jovens foram a única faixa etária em que as respostas achando a bebida “prejudicial” superaram as opiniões positivas.
Esses jovens mais céticos em relação ao álcool não se opõem moralmente a beber nem são particularmente mais apegados à socialização virtual do que à presencial, segundo o Jefferies. Em vez disso, disseram não gostar de ressacas nem de se preocupar com o impacto do álcool em sua saúde mental - e em suas carteiras.
Preparando-se para esse problema iminente, as empresas de bebidas há muitos anos têm investido em pesquisa e em poder de fogo publicitário no segmento de bebidas para adultos com baixo teor alcoólico ou sem álcool.
Grande parte do esforço está nas versões renovadas de suas grandes marcas, como o Tanqueray 0.0, o Ballantine’s Light e a cerveja lager Brooklyn Special Effects. A Heineken até trocou a Amstel Light pela Heineken 0.0 no patrocínio da Liga Europa de futebol.
Os grandes grupos também vêm somando linhas de produtos de nicho que enfatizam sabores botânicos: a Pernod comprou uma participação majoritária nas versões de bebidas destiladas sem álcool da Ceder, em janeiro, e a Diageo fez um investimento semelhante na Seedlip, em 2019.
Projeta-se aumento de 34% nas vendas mundiais de bebidas com baixo teor ou sem álcool entre agora e 2025, em comparação aos cerca de 6% para o mercado de álcool como um todo, segundo a firma de dados do setor de bebidas alcoólicas IWSR. Embora a cerveja sem álcool atualmente represente a maior parte do segmento, acredita-se que as versões de destilados sem álcool passem a ter um crescimento maior.
Isso não é problema algum para as fabricantes de bebidas - desde que esse crescimento venha de seus próprios produtos. As bebidas com baixo teor e sem álcool costumam ter preços semelhantes aos das bebidas alcoólicas, para preservar sua imagem refinada. Os impostos, porém, são bem mais baixos. Isso significa que uma parte maior de cada venda fica com o produtor.
Em seus momentos de maior otimismo, as fabricantes de bebidas alcoólicas imaginam que os produtos não alcoólicos serão um porto de entrada para novas oportunidades no consumo de bebidas. Por que beber uma Coca-Cola enquanto come seu sanduíche em sua mesa quando você pode beber uma cerveja sem álcool com a metade das calorias? O almoço com três martinis poderia voltar a ficar em voga.
Para que isso funcione, entretanto, tais bebidas precisam ser mais do que apenas um pobre substituto da versão real pensado para os abstêmios. Então, fui ao supermercado - tudo em nome da pesquisa. A Heineken 0.0 é um avanço definitivo em relação às horríveis cervejas sem álcool disponíveis quando eu estava grávida, mas confesso que não fui totalmente conquistada por ela nem pela versão de gim sem álcool Tanqueray 0.0 com tônica.
Acontece que sou, no mínimo, parcialmente a favor das bebidas alcoólicas. Mas talvez eu esteja velha.
(Tradução Sabino Ahumada)
Fontes:
https://www.ft.com/content/40231954-adbc-4b6b-bfe5-5ec3da397c39