A economia circular é um modelo que visa maximizar o uso de recursos, reduzindo resíduos e promovendo a reutilização de materiais. No setor de alimentos e bebidas, ela pode ajudar a otimizar processos, diminuir desperdícios e inovar na criação de produtos. Entenda melhor a seguir.
A economia circular é um modelo que busca aproveitar ao máximo os recursos, reduzindo a geração de resíduos e promovendo a reutilização de materiais. Em vez de seguir o caminho tradicional da economia linear — em que os produtos são fabricados, usados e descartados —, esse movimento aposta na sustentabilidade, algo que tem se tornado cada vez mais importante no mundo atual.
Os consumidores estão mais ecologicamente conscientes e mais cuidadosos com suas escolhas de alimentos e bebidas. Isso traz à indústria o desafio de incorporar práticas sustentáveis em todas as partes da cadeia de abastecimento; da fazenda à mesa.
Assim, ser sustentável e se preparar para a economia circular na indústria não é apenas fazer a coisa certa para o meio ambiente. Também pode ser uma forma de aumentar a afinidade da marca com seus clientes e, até mesmo, economizar dinheiro e minimizar perdas.
Continue a leitura para entender melhor como a economia circular funciona e por que ela é uma peça-chave para o futuro da indústria de alimentos e bebidas tanto no Brasil quanto no Mundo inteiro.
O que é economia circular?
A economia circular é um conceito que propõe uma nova maneira de pensar a produção e o consumo, buscando fechar o ciclo de vida dos produtos. Ao contrário do modelo tradicional, que segue a lógica de extrair, produzir, consumir e descartar, a economia circular busca transformar resíduos em recursos, prolongando o uso dos materiais e minimizando o desperdício.
O objetivo principal é criar um sistema mais sustentável e eficiente, no qual o valor dos produtos, materiais e recursos é mantido por mais tempo. Esse modelo é baseado em três princípios fundamentais: reduzir o uso de novos recursos, reutilizar produtos sempre que possível e reciclar os materiais que já foram usados.
Assim, os produtos são projetados para ter um ciclo de vida mais longo, e quando chegam ao fim de sua utilização original, são reaproveitados de forma que possam ser reintegrados ao processo produtivo. Isso não só diminui o impacto ambiental, mas também gera economia de custos para as empresas e estimula a inovação.
Por que investir na economia circular é importante para o setor de alimentos?
Com o aumento da demanda global por alimentos e os desafios impostos pelas mudanças climáticas, as empresas do setor precisam adotar práticas que diminuam o impacto ambiental e que sejam mais eficientes no uso dos recursos.
A partir disso, a economia circular se destaca como uma solução promissora para essas questões, ao promover o reaproveitamento de materiais e a redução de resíduos.
Melhores processos de fabricação
Adotar a economia circular permite às empresas de alimentos aprimorar significativamente seus processos de fabricação. Um dos pontos centrais desse modelo é o redesenho de produtos e embalagens para que possam ser reutilizados ou reciclados ao final de sua vida útil.
Na prática, isso significa que as empresas precisam repensar desde o design dos produtos até as matérias-primas utilizadas. Esse tipo de inovação não só contribui para a sustentabilidade, mas também aumenta a eficiência produtiva, reduzindo custos a longo prazo.
O setor de alimentos pode, por exemplo, utilizar subprodutos gerados durante o processo de fabricação para criar novos produtos. Um bom exemplo disso é o uso de cascas e bagaços de frutas que, em vez de serem descartados, podem ser reaproveitados na fabricação de ingredientes como fibras alimentares ou farinhas.
Além disso, ao melhorar os processos de fabricação, as empresas podem reduzir o consumo de água e energia, dois dos recursos mais demandados pela indústria de alimentos. Soluções como o uso de energias renováveis e tecnologias que permitem a reciclagem da água durante a produção são algumas das inovações que podem ser implementadas para otimizar as operações.
Redução de desperdício
A economia circular traz a possibilidade de as indústrias minimizarem o desperdício, otimizando os processos de fabricação por meio de melhor tecnologia e treinamento da força de trabalho. As empresas também podem reciclar alimentos que normalmente seriam desperdiçados na linha de produção ou criar novos produtos com sobras de subprodutos e ingredientes.
Ainda, pode-se considerar a implementação de abordagens regenerativas para a produção de alimentos e buscar formas de cultivo de um modo que aprimore, em vez de degradar o meio ambiente.
É importante lembrar que o desperdício de alimentos é um dos maiores problemas enfrentados pela indústria, representando cerca de 30% de toda a produção global, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Só no Brasil, estima-se que aproximadamente 27 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas anualmente, segundo a ONU. Esse cenário evidencia a necessidade urgente de mudanças no modelo de produção e consumo, e a economia circular pode ser uma ferramenta essencial para reverter essa situação.
Inovação e diversificação de portfólio com a economia circular na indústria de alimentos e bebidas
A mudança para uma economia circular também envolve um uso mais completo dos ingredientes e subprodutos. Isso já está gerando diversas oportunidades. Por exemplo, empresas estão criando novos produtos a partir de resíduos de alimentos (subprodutos).
A ReGrained, de São Francisco, está usando grãos residuais da produção de cerveja para produzir barras nutricionais e lanches. A Planetarians, startup focada em proteínas alternativas, está produzindo proteína vegetal a partir de sementes de girassol desengorduradas e recicladas.
Os subprodutos alimentares também podem encontrar novas aplicações na indústria de cuidados pessoais. A Keracol, com sede no Reino Unido, criou uma linha de tinturas naturais e produtos para os cabelos a partir da polpa da groselha.
Assim, a economia circular é mais do que uma iniciativa de sustentabilidade - trata-se também de ajudar as indústrias a gerenciar melhor seus recursos e resíduos de forma eficiente. Com isso, o desperdício tradicional dessa cadeia pode ser reduzido, monetizado e distribuído pelas cadeias de suprimentos e redes de valor.
Quais são os pilares da economia circular?
Os pilares da economia circular são os princípios que guiam a aplicação desse modelo nas diversas indústrias, incluindo a de alimentos. Eles ajudam a definir como os recursos devem ser utilizados de forma sustentável e eficiente, maximizando seu valor e minimizando o impacto ambiental.
Esses pilares são:
- Reduzir: diz respeito à minimização do uso de matérias-primas e da geração de resíduos. A ideia é utilizar menos recursos naturais e otimizar os processos produtivos para evitar desperdícios.
- Reutilizar: em vez de descartar produtos após o uso, a economia circular propõe o reaproveitamento deles.
- Reciclar: trata-se de transformar os materiais ao final de seu ciclo de vida para que sejam reintroduzidos na cadeia produtiva.
Como a economia circular funciona na indústria de alimentos e bebidas?
A economia circular para a indústria de alimentos e bebidas acontece a partir da reestruturação de processos para otimizar o uso de recursos e reduzir ao máximo a geração de resíduos.
Na prática, empresas desse setor estão adotando métodos como o reaproveitamento de resíduos orgânicos, utilizando sobras de frutas, vegetais e grãos para criar novos produtos, como ingredientes para alimentos ou rações para animais.
Outra forma de aplicar a economia circular é através da logística reversa, em que embalagens retornáveis ou recicláveis são recolhidas e reintroduzidas no ciclo de produção. Isso não apenas diminui o desperdício de materiais como também reduz a necessidade de recursos virgens.
A adoção de tecnologias mais eficientes no uso de água e energia também é uma parte fundamental. As empresas estão investindo em processos que reciclam a água utilizada na produção ou que utilizam fontes de energia renovável, como a solar, para diminuir sua pegada ecológica.
Exemplos de economia circular no setor de alimentos
Várias empresas estão implementando práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia produtiva. Essas mudanças ocorrem em diferentes etapas, desde o processamento dos alimentos até a forma como são distribuídos e embalados.
Confira alguns exemplos práticos de como a economia circular está sendo aplicada no setor de alimentos, trazendo benefícios ambientais e econômicos.
Processamento
O processamento é uma área que tem adotado diversas práticas circulares. Na indústria de bebidas, por exemplo, há um grande esforço para reduzir o consumo de água.
Algumas empresas no Brasil estão desenvolvendo tecnologias que permitem o reuso da água utilizada durante o processo produtivo. A Mondelez Internacional, por exemplo, economizou, só em 2020, em sua fábrica em Curitiba (PR), 36 milhões e 651 mil litros de água após uma série de melhorias em seu processamento.
Uma das estratégias mais comuns é o uso de sistemas fechados. Nele, a água passa por processos de filtragem e pode ser reutilizada várias vezes no processo industrial. Esse tipo de inovação tem sido adotado por grandes empresas de bebidas no país, garantindo uma produção mais sustentável sem comprometer a qualidade dos produtos.
Distribuição
Na distribuição é possível adotar práticas circulares, como a logística reversa. Esse conceito envolve a coleta e o retorno de produtos e embalagens para que possam ser reutilizados, reciclados ou descartados de forma correta.
No setor de alimentos, essa prática é particularmente importante no manejo de embalagens, que muitas vezes são descartadas de maneira inadequada. Ao adotar a logística reversa, as empresas podem garantir que as embalagens retornem para um novo ciclo de vida, contribuindo para a economia circular.
Embalagens
As embalagens são uma parte essencial da economia circular, e empresas do setor de alimentos estão investindo em soluções sustentáveis cada vez mais. Um exemplo é a PepsiCo, que implementou na Europa um sistema de embalagens circulares para seus snacks.
Essa abordagem não só reduz o desperdício, como também diminui a necessidade de produzir novas embalagens a partir de matérias-primas virgens, o que gera um impacto positivo no meio ambiente.
Gestão de resíduos
Muitas empresas estão buscando maneiras de transformar resíduos em novos produtos, promovendo o reaproveitamento e evitando o descarte desnecessário.
Um exemplo inovador é o reaproveitamento de subprodutos da produção de suco de laranja, como a fibra da laranja, que pode ser transformada em ingredientes para alimentos ricos em fibras.
Indústria 4.0 e economia circular na indústria de alimentos e bebidas: convergência de transformações nas empresas
A Indústria 4.0 é caracterizada pela integração de diferentes tecnologias de base digital nos processos de produção, a fim de aumentar a eficiência e a competitividade da empresa.
Com base na conectividade de objetos e sistemas ciberfísicos, tem-se o embrião para uma ‘fábrica inteligente’ e uma nova organização das capacidades que conduzem a melhorias na produtividade e a uma alocação de recursos aprimorada e mais ambientalmente sustentável.
Assim, a economia circular na indústria de alimentos e bebidas tem uma combinação orgânica e promissora com a Indústria 4.0.
Na verdade, acredita-se que essa convergência não seja mera coincidência, mas uma necessidade, pois ambos os fenômenos representam faces da mesma moeda, uma vez que a Indústria 4.0 fornece as tecnologias que permitem o desenvolvimento de novos modelos de negócios circulares, e a economia circular incentiva, promove e dá sentido ao desenvolvimento dessas tecnologias. Essa ideia tem se fortalecido e dado lugar ao conceito de Economia Circular 4.0.
Afinal, a quarta revolução industrial é muito mais do que uma mudança tecnológica. É, também, um fenômeno econômico, social e ambiental.
Se pensarmos sobre alguns dos problemas que levam ao desperdício de alimentos na fase de fabricação, há falhas técnicas, superprodução e inconsistência em processos produtivos, por exemplo.
Assim, ter sistemas semi autônomos e máquinas inteligentes pode ajudar a prever avarias em estágios iniciais, otimizar as quantidades de alimentos necessários para a produção e garantir a consistência e padronização dos processos para evitar quaisquer problemas de integridade do produto ou desperdícios.
Modelos de negócio circular para indústria de alimentos
Existem diversos modelos de negócio circular que podem ser aplicados à indústria de alimentos e bebidas, e cada um deles busca maximizar o uso de recursos e reduzir o desperdício ao longo da cadeia produtiva.
Um dos mais comuns é o modelo de reaproveitamento de resíduos. Mas, outros modelos incluem:
- Sistema de embalagens retornáveis ou reutilizáveis: promove o retorno das embalagens ao fabricante para serem higienizadas e reutilizadas. Isso é muito comum no setor de bebidas, onde garrafas de vidro retornáveis são reintroduzidas na cadeia de produção após o uso.
- Aluguel de produtos e equipamentos: é um modelo que está começando a ganhar força na indústria de alimentos, especialmente em equipamentos de produção. Empresas podem alugar ou compartilhar maquinário, evitando a necessidade de aquisição de novos equipamentos e prolongando a vida útil dos já existentes.
Isso reduz o impacto ambiental e proporciona economia de custos, além de facilitar a entrada de pequenos produtores no mercado, democratizando o acesso a tecnologias mais eficientes.
Desafios e oportunidades na implementação da economia circular
Enquanto algumas barreiras surgem, como a necessidade de mudanças profundas nos processos internos e o cumprimento de regulamentações, também há grandes oportunidades para inovar, otimizar custos e fortalecer a imagem de marca diante de um público cada vez mais consciente.
Mudanças organizacionais
A implementação da economia circular exige uma transformação cultural dentro das organizações. É necessário repensar desde o design dos produtos até os processos produtivos, o que pode gerar resistência inicial entre colaboradores e setores mais tradicionais.
Essa transição envolve a capacitação das equipes para compreender e adotar novas práticas, além de investimentos em tecnologia e inovação, que nem sempre são viáveis para todas as empresas, especialmente as de pequeno porte.
Conformidade às regulamentações ambientais e sanitárias
A indústria opera sob regras rigorosas para garantir a segurança alimentar, e implementar novos modelos de negócio ou processos circulares pode exigir uma revisão completa de práticas já estabelecidas. Isso pode demandar tempo e recursos adicionais para garantir que todas as etapas do ciclo produtivo estejam em conformidade com as normas vigentes.
No entanto, empresas que conseguem alinhar suas práticas circulares com as regulamentações ambientais podem se beneficiar de incentivos fiscais e certificações de sustentabilidade, que agregam valor à marca.
Parcerias e colaboração
A economia circular não pode ser implementada de forma isolada. Para que esse modelo funcione de maneira eficiente, é necessário estabelecer parcerias e colaborações com fornecedores, clientes e até concorrentes.
A criação de uma cadeia de valor circular exige que todos os envolvidos no processo produtivo compartilhem a mesma visão e se comprometam a adotar práticas sustentáveis, como o reaproveitamento de materiais ou a logística reversa.
Seja através da otimização dos processos produtivos, do reaproveitamento de resíduos ou da adoção de embalagens sustentáveis, a economia circular oferece inúmeras possibilidades de inovação e crescimento sustentável. Adotar esse modelo não é apenas uma escolha estratégica, mas um compromisso com o futuro do planeta e das próximas gerações.
*Fonte: FoodConection.com