Com desafio de suprir mão de obra mais qualificada, setores terão de adotar mais tecnologia
O ganho de produtividade, através da adoção de novas tecnologias, é imperativo para que os negócios consigam amenizar a escassez e o alto custo da mão de obra, segundo entidades representativas dos setores.
A mão de obra “é hoje, talvez, o maior desafio na operação dos nossos negócios”, afirma Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
São vários os desafios, segundo ele. “Na pandemia, precisamos demitir muita gente, pessoas que foram para outros empregos, como motorista de aplicativo, ou viraram pequenos empreendedores. Colocar essas pessoas para dentro de novo fica mais difícil”, diz.
A pandemia também acelerou os serviços de venda digital e entrega no segmento de alimentação e mudou a exigência de perfil de trabalhadores em bares e restaurantes, segundo Solmucci.
“Antes, eu tinha um salão e acompanhava tudo, ia na mesa, sabia o que o cliente estava achando. Agora, preciso de um atendimento pré e pós-venda. O cliente pesquisa preço, cardápio, procura ofertas, vê se compensa mais pedir em casa ou pegar ‘para viagem’. Isso trouxe um conjunto de novos profissionais - de mídias sociais, backoffice etc. - e novos desafios para a nossa mão de obra”, diz Solmucci. “Não só a gente disputa, como já fazia, mão de obra tradicional com outros setores, como agora passamos a disputar uma mão de obra bastante demandada, de profissionais de tecnologia, marketing digital.”
O resultado, diz, é que o salário médio de alojamento e alimentação, por exemplo, está cerca de50% maior do que o salário mínimo. O rendimento médio mensal real efetivamente recebido no trabalho principal no segmento no primeiro trimestre de 2024, segundo os últimos dados disponibilizados pelo IBGE, era de R$ 2.159, para um salário mínimo de R$ 1.412 em 2024..
Pela mesma métrica, o salário em alojamento e alimentação também sobe acima do salário médio no primeiro trimestre, ante igual período de 2023: 4,4%, contra 4%. Ainda assim, Solmucci observa que o setor só paga melhor do que agricultura (R$ 1.959) e serviços domésticos (R$ 1.253).
“A mão de obra que é mais competitiva para nós tende a ser menos qualificada, o que nos impõe enorme desafio de qualificação e treinamento. Ao mesmo tempo, estamos tendo de subir os salários acima da média para atrair e reter mão de obra mais qualificada. Isso tem pressionado os custos, mas temos dificuldade de repassar os preços ao cardápio”, afir
Não à toa, diz, pesquisa recente da Abrasel mostrou que 69% das empresas do setor estão operando sem lucro e 25% estão com prejuízo. “A saúde financeira fica muito debilitada”, afirma.
O problema de escassez de mão de obra não é novo na construção civil, segundo Ricardo Michelon, vice-presidente de relações trabalhistas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). “O problema é que agora está chegando a um pico de mão de obra. No último Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], com dados de maio, somamos 2,907 milhões de trabalhadores com carteira assinada na construção, muito próximo do pico de 2,980 milhões de 2014”, afirma.
Michelon nota também que o salário médio de admissão da construção em maio (R$ 2.290,41) foi o maior entre os outros grandes segmentos e superior ao salário de admissão médio geral da economia (R$ 2.132,64). Por ora, Michelon diz que o setor sente a inflação da mão de obra, mas “ainda não é algo que a gente possa entender como alarmante”.
De qualquer forma, Michelon diz que o setor precisa agregar mais tecnologia aos seus processos, de modo a tornar o ambiente de trabalho mais atrativo e capaz de reter funcionários. Solmucci também cita o uso de tecnologia e a e automação para que bares e restaurantes consigam promover ganhos de produtividade relevantes. “Há janela de saída, mas não vai ser fácil trilhar esse caminho.”